O Brasil é um país imenso, culturalmente diverso e com características peculiares de cada região. Afinal, estamos falando de um território maior que todos os países da Europa juntos, e que teve influências de diversas nações. Porém, há elos que unem o Brasil. Além da língua portuguesa, certas superstições passam de geração para geração, criando um denominador comum. Elas derivam na fé no sobrenatural, de que exista algo ou alguém que ajudará a virar a sorte que acompanha uma paixão também comum no Brasil: os jogos e as apostas nos jogos. Já é de praxe: Onde um grupo se reúne, outro se reúne ao redor para torcer, e para, porque não, apostar.
Seja jogando ou apostando, os brasileiros gostam contar com uma ajuda a mais. Há até um dizer bem brasileiro que desdiz o ditado quando fala que se “macumba” desse certo, campeonato baiano daria empate – referindo-se a uma correlação entre apostas e um dos Estados brasileiros que possuem mais frequentadores de religiões afro brasileiras.
É daí que surgem os símbolos, gestos e até mesmo orações que fazem antes de fazer aquela rezinha. Da mistura dos povos que aqui chegaram antes dos portugueses, e daqueles que vieram para agregar a mistura que hoje resulta numa cultura rica de sabores, crenças e cores.
Os povos originários tiveram uma tradição transmitida vocalmente, e mesmo sem registros escritos, cultuavam tradições que incluíam a crença de que um objeto específico poderia trazer sorte em momentos de batalhas, nascimentos ou qualquer outra em que fosse necessário.
Os europeus, sobretudo os portugueses e espanhóis, contribuíram fortemente com a religião católica e seus símbolos que podiam afastar o azar, além de datas comemorativas e rezas para atrair bons ventos. Aliás, o uso de relíquias por si só é um fiel retrato de que o catolicismo também possui seus amuletos, e deles utilizam-se para ter sorte em momentos adversos.
Os africanos, chegados séculos depois, eram separados de seus pares, para que pouco sobrasse de suas crenças e sabedorias. Os poucos que permaneciam juntos lutavam para manter um pouco de suas tradições, advindas da terra mãe. Mesmo assim suas contribuições foram valiosas. Destas faziam parte o uso de determinadas cores, oferendas e peças que podiam ser abençoadas e usadas como proteção.
Podemos ver características em comum em todas. E somando tudo isso, nasce uma grande nação que, mesmo sem querer, reproduz símbolos e superstições de seus antepassados. Alguns desses símbolos são:
- Amuletos: os amuletos são muito populares e usados para sorte. Podem ser pequenos objetos, desde pedras, um pedaço de lenço, uma figa (um símbolo de uma mão fechada com o polegar entre os dedos indicador e médio), patuá (um saquinho com ervas, objetos e orações), escapulário (um cordão usado no pescoço e que possui imagens de santos nos dois lados opostos) e o galhinho de arruda (que é o símbolo da sorte), olho grego, ferradura e o terço.
- Rituais: há pessoas que acreditam que usar determinada peça de roupa (camisa, meia, pedaço de pano, pode dar sorte. Outros rituais bastante comuns são as promessas aos santos, colocar o dinheiro que vai ser apostado dentro da bíblia, fazer o sinal da cruz, passar a mão na barriga de uma grávida ou até mesmo soprar o bilhete irá trazer a boa na hora das apostas. O uso de cores especiais também se somam aos rituais, com cores que podem abrir os caminhos.
- Datas e números especiais: é bastante comum encontrar pessoas que entra ano e sai ano e continuam apostando nos mesmos números da sorte. Estes acreditam que um dia ela lhes alcançará. Mas, além desses há os que utilizam números especiais nas apostas, como sequência de aniversário (dia, mês e ano), data de nascimento de alguém especial, placa de carro e até algum número ou sequência aleatória que apareceu durante um sonho.
Os momentos de apostas são aqueles em que as pessoas se reúnem e tentam juntar forças enquanto esperam os melhores resultados. Até mesmo quando apostam na inalcançável megasena. Usar algo que aumente sua sorte de forma mágica, eleva também sua esperança. Aos poucos, com a modernização dos meios de apostas, essas práticas vão acompanhando ao seu modo.
O que, talvez, barre um pouco esses rituais quando as apostas e jogos sejam feitos de modo online seja a natureza dos jogos de cassino: estes são feitos com algoritmos e calculados com probabilidades certeiras. Mas, olhando por outro lado, sabe-se lá quando essa tal probabilidade vira para o lado do jogador? Vai que é chegado o momento de ganhar e um amuleto pode aumentar essa chance? Esses pensamentos podem acompanhar tanto os jogadores tradicionais quanto os mais modernos, tornando da aposta imprevisível e lúdica como uma esperança.
Sendo assim, segue-se o desafio que conecta descendências. Aqueles símbolos passados de geração para geração podem até não cumprir com o prometido, mas continuam como uma representação emocional que pode evitar a má sorte. Tal como faziam os nossos antepassados.
Como podemos ver, as superstições e símbolos encontram-se na sociedade sendo conhecida e aceita por boa parte dos brasileiros. Muitos podem até não acreditar, mas aquela pequena dúvida faz com que eles não resistam a segui-las, afinal, mal não fará e toda ajuda é bem vinda. Afinal, vai que, não é mesmo?
