Quando foi lançado Rain Man, em 1989, já havia estudos sobre a síndrome de savant há algumas décadas – mais precisamente na década de 40. Mas ainda era um assunto que o público em geral não dominava. Para ser mais exato, a síndrome que algumas vezes vem acompanhada do TEA (Transtorno do espectro autista) vem sendo melhor entendida nas duas últimas décadas.
E foi justamente sobre a pauta de um homem tendo que lidar e aprender sobre o comportamento de seu irmão mais velho – que tem síndrome de Savant e autismo – que se trata o filme. Assim como boa parte da sociedade, Charlie não sabia como criar uma relação com ele. A produção serviu para mostrar sua existência, e o quanto é necessária o entendimento dos comportamentos humanos para uma melhor qualidade de vida tanto para quem tem, como para os parentes. Mas antes de seguir, vamos à uma sinopse rápida.
Charlie (Tom Cruise), está com sérios problemas financeiros quando recebe a notícia que seu pai faleceu. Ele não o via desde seus 16 anos, quando saiu de casa após uma discussão. Ao saber através de um inventário que o pai deixara para ele somente o carro que detonou a relação dele e um roseiral, Charlie sente-se lesado. Afinal, a herança e a casa onde morara até a adolescência fica com um “estranho”.
Ao visitar a instituição, ele descobre que o estranho é na verdade seu irmão mais velho, Raymond. Charlie nunca ouvira falar dele. Pelo menos é o que ele pensa. Em desespero atrás de dinheiro, o personagem interpretado por Tom Cruise sequestra seu irmão para que assim possa conseguir metade da herança.
Os dois partem, então em uma viagem de três dias de carro. Durante o percurso, Charlie começa a perceber mais semelhanças do que ele imagina, principalmente no que diz respeito à dificuldade de comunicação (um traço familiar que começou com seu pai).
Percebe que Ray não era na verdade um desconhecido, mas seu irmão que foi mandado para uma instituição por seu pai não saber como criá-lo. Em suas lembranças, Charlie atribuiu Ray a um “amigo imaginário”que de repente saiu de sua vida após a morte de sua mãe. Mas percebe também que Ray é um gênio da matemática.
Pessoas com síndrome de Savant podem possuir dificuldades de se comunicar com o mundo. Por outro lado, têm uma capacidade extraordinária de serem gênios em assuntos específicos. No caso de Raymond, ele era capaz de decorar facilmente todo o texto de livros, e dominava a matemática de maneira genial. Os resultados de questões complexas eram imediatamente resolvidas por ele, bem como aprendia facilmente tudo relacionado a números.
Percebendo isso, e desesperado por dinheiro, Charlie resolve ensiná-lo a jogar cartas, tendo em vista levá-lo para o cassino de Las Vegas. Os dois acabam se hospedando no Ceasar Hotel, cenário bastante conhecido por ter sido cenário para outros filmes sobre cassinos, como Se Beber não case, A grande Aposta e até mesmo O Homem de Ferro. Durante as cenas filmadas lá, aparecem os jogos mais comuns como os slots (preferidos entre as pessoas de maior idade) e roletas.
No cassino, Ray se concentra no blackjack, jogo que exige grande atenção. Mesmo sem conhecer grandes estratégias do blackjack, começa a ganhar todas as jogadas de cartas, uma atrás da outra, levantando suspeita do gerente do local. Mesmo assim, os irmãos conseguem levantar um valor muito alto. Um ponto que talvez passe batido em Rain Man, é uma pequena cena em que ele faz seus cálculos, porém uma roda da sorte cai em um número diferente. Estaria a roda da sorte viciada? Ou Ray realmente errara e perdera 3 mil dólares com isso? A cena não foi muito desenvolvida, por isso não temos uma explicação clara.
Aliás, várias questões ficam em aberto, inclusive o final, que apesar de esperado é algo que deixa brechas para interpretação. Apesar de durar mais de 2h, Rain Man acabou sendo uma grande surpresa, ganhando a maior bilheteria do ano. E 4 oscars: Melhor Filme do ano, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor direção (Barry Levinson) e Melhor Roteiro original (Ron Bass e Barry Morrow). A produção também marcou a estreia de Hans Zimmer na trilha original, e ele chegou a ser indicado ao Oscar por essa produção.
Rain Man, desssa maneira, é um filme especial, tanto pela história de conhecimento e respeito quanto a genialidade. Uma curiosidade: O personagem Raymond foi inspirado em Kim Peek, que tinha a síndrome de savant. Peek foi erroneamente diagnosticado com retardo mental e levado a uma instituição especializada. Porém, ele era capaz de decorar 100% qualquer informação que lia, tendo decorado toda a obra de Shakespeare com apenas 16 anos.