
Para entender melhor o personagem James Bond, é necessário adentrar em algumas passagens da vida de seu autor, e como elas acabaram influenciando sua obra. Ian Fleming nasceu em uma família rica, fundadora de bancos. Com essa origem privilegiada, teve acesso aos melhores estudos. Atuou como jornalista, financista e corretor da bolsa de valores, sem, porém, ser destaque em nenhuma área em específico.
Quando explodiu a segunda guerra mundial, por influência familiar, Ian Fleming foi mandado para a Divisão de Inteligência Naval, ajudando setores ligados às investigações. Embora atuasse como assistente, pode ter acesso a muitas informações durante o período, entendo como funcionam os movimentos por trás das guerras. Mais tarde, esse conhecimento seria de grande valia em suas obras.
Com o fim da guerra, foi trabalhar como supervisor na The Sunday Times. Nessa época construiu um lugar de refúgio, uma casa em Saint Mary Parish, na Jamaica, que ele apelidou de Goldeneye. Embora tivesse sua casa na Inglaterra, foi lá que ele passou bons momentos de sua vida. Ele, que adorava a vida noturna, viagens e luxo, alternava isto com a escrita enquanto estava em Goldeneye. Então, aos 45 anos de idade, se tornou escritor.
James Bond aparece inicialmente em “Casino Royale”, escrito em apenas dois meses. Seus amigos que leram os manuscritos ficaram divididos se era ou não uma boa história, alguns aconselhando-o a não lançar, inclusive. Porém, seu irmão Peter, um renomado autor de livros de viagem, persuadiu a editora a publicá-lo. Aqui cabem algumas curiosidades. O nome James Bond foi inspirado no autor do livro “Birds of the West Indies”, o especialista em pássaros chamado James Bond. Em entrevista posterior ao The New York, Fleming frisou:
“Quando escrevi o primeiro livro em 1953, queria que Bond fosse um homem extremamente chato e desinteressante a quem as coisas simplesmente aconteciam; queria que ele fosse um instrumento contundente… Quando procurei um nome para meu protagonista, pensei: ‘Por Deus, [James Bond] é o nome mais monótono que já ouvi’.“
Sua aparência foi inspirada no ator Hoagy Carmichael e o próprio autor. Já as características do espião vieram de pessoas diversas que incluíam dois espiões e ele mesmo. Como Bond, Ian gostava de jogos de azar, carros de luxo, martini, casinos e golfe.
E foi em um casino em Portugal que ele conheceu um dos espiões que inspirou seu personagem. De passagem pelo país, em 1941, Fleming se hospedou no Estoril Palace Hotel, em Cascais. Por ser um local considerado neutro, recebia visitas de espiões de diferentes lados. Lá frequentava o Casino Estoril e em uma noite conheceu Dusan Popov, espião sérvio durante a guerra. Popov costumava frequentar casinos onde estava sempre rodeado de mulheres enquanto trabalhava como agente triplo.
Outro espião que trouxe mais traços para Bond foi Sidney Reilly, conhecido como “Às dos Espiões”. Reilly gostava de ação e missões mais arriscadas.
Apesar da incredulidade de alguns amigos, seu primeiro livro foi um grande sucesso, esgotando das prateleiras rapidamente. Fleming escreveu ao todo 14 livros sobre o 007, vendendo mais de 100 milhões em todo o mundo. Mas nem por isso fugiu da crítica. Se no início, suas histórias foram bem recebidas, após a publicação de “Dr. No”, em 1958, boa parte da crítica passou a desaprovar certas passagens, sobretudo aquelas que incluíam nudez, sadomasoquismo e estereótipos. O crítico Paul Johnson, do New Statesman, endossou a crítica:
“Três ingredientes básicos em ‘Dr. No’, todos doentios, todos completamente ingleses: o sadismo de um valentão da escola, os desejos sexuais mecânicos e bidimensionais de um adolescente frustrado e os caprichos grosseiros e esnobes de um adulto suburbano.”
Apesar das críticas, seus livros continuavam vendendo muito. Inclusive o presidente John F. Kennedy declarou que James Bond estava entre seus personagens favoritos. Em 2023, os livros de James Bond foram republicados com um aviso de que “termos e atitudes poderiam ser considerados ofensivos para leitores modernos”. Alguns trechos foram também refeitos, procurando-se manter próximo do texto original.

Albert Broccoli, Sean Connery, Ian Fleming e Harry Saltzman
O sucesso nos Estados Unidos levou o autor a vender os direitos de adaptação para o cinema para Harry Saltzman, que lançou seis filmes baseados nas histórias de Bond. Sean Connery foi escolhido para interpretar o protagonista em “Dr. No” (1962). Connery contribuiu para o papel deixando o agente ainda mais charmoso e com um senso de humor único. Outros atores que interpretaram Bond incluem George Lazenby (1969), Roger Moore (1973–1985), Timothy Dalton (1987–1989), Pierce Brosnan (1995–2002) e Daniel Craig (2006–2021).
Cada filme se passava em cenário e época variados, muitas vezes abrangendo vários países. “007 – Ao Serviço de Sua Majestade” (1969), por exemplo, foi filmado em Portugal, no Hotel Palácio Estoril. O hotel aparece em cenas dos quartos, na entrada e na piscina recém-inaugurada à época. Além de Portugal, este filme inclui cenários na Suíça e no Reino Unido.
Ian Fleming faleceu aos 56 anos, em 1964, após um ataque cardíaco, depois de uma vida repleta de aventuras regadas a bebidas e cigarros. Dois de seus livros foram publicados postumamente: “The Man with the Golden Gun” e “Octopussy and The Living Daylights”. Porém, seu legado continua vivo através de seu personagem carismático, que influenciou tantos outros escritores e roteiristas, sendo assim uma das figuras mais icônicas da literatura e da cultura pop.